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domingo, 1 de abril de 2012

DAQUILO QUE ME HABITA


Tarde de domingo em Brasília depois da chuva. Almocei no Bistrô Bom Demais no CCBB e aproveitei para ver as exposições em cartaz naquele centro cultural. Uma delas é a "Daquilo Que Me Habita" com intervenções nas áreas livres do local, como o vão, as paredes do fraldário e os jardins. São oito obras de oito artistas plásticos diferentes com curadoria de Maíra Endo e Samantha Moreira. Como toda instalação/intervenção, tem para todos os gostos, sendo algumas delas necessário uma leitura nas informações disponíveis sobre a mostra para entender o que o artista quis dizer. Não tinha pressa, motivo pelo qual gastei tempo adequado para apreciar cada uma delas, tirando várias fotos. Abaixo de cada foto, faço um breve comentário sobre cada obra. Fica em cartaz até 13 de maio de 2012.



"Acampamento dos Anjos", de Eduardo Srur (São Paulo). O colorido das barracas faz um interessante contraste com o cinza do concreto do prédio do CCBB. À noite, segundo o fôlder da exposição, as barracas tem iluminação própria, transformando a intervenção. Assim que cheguei, notei a instalação com estas barracas suspensas, mas não consegui captar a mensagem do artista. Somente após ler o título da obra, comecei a pensar sobre ela. Anjos são protetores na mitologia cristã. Gostei.


"Circuito nº 1: para estar aqui", do coletivo Cabeça Nuvem (São Paulo). Parece um circuito de preparação de soldados do exército ou de um game televiso. Fica no imenso gramado atrás do teatro. É a obra onde tem mais crianças, pois ela é interativa. Não gostei.



"Circulares", de Carla Barth (Porto Alegre). Desenhos em preto e branco nas paredes do fraldário e dos banheiros ao lado da entrada principal do centro cultural. Os desenhos flertam com o surrealismo. Os traços e as imagens desenhadas me lembraram coisas infantis, histórias que saem do imaginário das crianças. Gostei.


"Esqueleto Aéreo", de Lia Chaia (São Paulo). Instalada no teto do vão livre que une a bilheteria ao restaurante, a obra consiste em bandeiras nas cores verde e azul, em tons pastéis, onde em cada bandeira está a reprodução de um osso do corpo humano. O mosaico deste esqueleto fica mais interessante quando sopra um vento, dando um balançar ao emaranhado de ossos. À primeira vista, pensei que eram aquelas bandeiras típicas da decoração de festas populares mexicanas, mas depois vi que elas foram inspiração para a instalação. Gostei.


"Installation in-situ", do coletivo Studio Public (Bélgica, França, Espanha e Brasil). Uma foto plotada em ambos os lados do vidro que apara o vento no restaurante. No fôlder há uma informação que tal foto traria a vegetação e a arquitetura de Brasília, mas não é o que vemos. A mesma fotografia estampa os dois lados do vidro: um ônibus em um dia de rotina na cidade, com passageiros alheios ao que se passa do lado de fora (apenas duas pessoas na foto estão olhando a paisagem no trajeto do ônibus). O grafismo estampado no ônibus lembra as linhas arquitetônicas dos prédios projetados por Niemeyer. O interessante é que a mesma indiferença dos passageiros se reproduz pelo lado de dentro do restaurante, quando as mesas ao lado da foto estavam ocupadas e as pessoas nela sentadas se mostravam completamente alheias à obra. Gostei.


"Mirando (a)", de Tom Lisboa (Curitiba). É a instalação que mais gostei. O artista pegou fotos de vários pássaros na internet, imprimiu-as, emoldurou-as e as pendurou em algumas árvores do CCBB. Não há indicações de quais são estas árvores, possibilitando às pessoas participar de um certo jogo para achar os pássaros pendurados. É como se os pássaros, mesmo que de forma totalmente artificial, voltassem à natureza, numa alusão clara de que as grandes metrópoles sufocaram a vida natural em seu espaço geográfico ou a confinou em espaços fechados (a moldura pode representar uma gaiola, onde os pássaros não voam, mas cantam e enfeitam as casas e apartamentos). Gostei muito.


"Proyecto Cancán", de Isabel Caccia (Argentina). Fica localizada nas árvores por trás do teatro. São meias femininas totalmente destruídas e disformes penduradas, amarradas ou enroladas nos troncos e galhos das árvores, formando um emaranhado como se fosse uma grande teia de aranha. Confesso que não consegui captar a mensagem, nem mesmo após ler o fôlder da mostra. O impacto visual é interessante. Gostei.


"Todos os lugares me ajudam a esquecer", de Matias Monteiro (Distrito Federal). Visivelmente é uma obra de protesto, mas como pude observar ficando parado perto de onde está instalada, somente quem sabe a história e o momento por que passa o Museu de Arte de Brasília a entende. Muitos achavam que a Galeria 1 do CCBB passou a se chamar Museu de Arte de Brasília. Como são poucos os que leem o fôlder, provavelmente saíram do local com esta impressão. Entendo que o protesto tenha relação com o museu de arte da cidade estar fechado há alguns anos, com seu acervo não disponível para visitação. Tem relação com o descaso com que o poder público trata a cultura e seus museus. Gostei.

artes plásticas


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